O sucesso de «Os Fidalgos da Casa Mourisca» no Brasil


A Revista da Semana em 15 de outubro de 1921 afirmava: «Foi com mal dissimulado ceticismo que a população do Rio viu anunciar o filme português da Invicta, extraído do romance célebre de Júlio Dinis «Os Fidalgos da Casa Mourisca». A surpresa reservada aos espectadores excedeu tudo o que podia imaginar-se. Durante duas semanas, com casas repletas, o filme admirável foi projetado na tela e aplaudido sem restrições. Uma interpretação irrepreensível, mise-en-scène e indumentárias rigorosas, paisagens as mais típicas, e tudo cinematografado com ciência técnica notável. Com este filme magistral, a cinematografia portuguesa eleva-se a par da indústria francesa e italiana e avizinhava-se por vezes da arte insuperável das empresas colossais de Los Angeles, batendo o recorde dos grandes sucessos da temporada cinematográfica de 1921 e conquistando um posto proeminente na opinião pública.»

O jornal cinematográfico Para Todos dizia: «Ao assistir ao excelente filme português extraído do delicioso romance de Júlio Dinis, tive a impressão de beber um elixir purificador. Quanta grandeza e quanta poesia existe nos personagens do delicado escritor lusitano. Depois de uma série de criações cinematográficas ultra modernas, cheias de vibrações intensas, de precipitações, de embriagamento, de luxo, de civilização, de vício e de paixões vingativas, insaciáveis, doentias, aquele amor de Berta, a sua figurinha forte e singela, o sentimento tranquilo, sincero, leal, dedicado e profundo da gente daquele tempo, é um balsamo, um consolo, um refrigério, uma reminiscência, um sonho de ouro, um repouso, enfim, para os nervos modernos, exangues de gozos procurados e encontrados na dor. Não sei o nome de nenhum dos artistas, pois o Cinema Palais tem o péssimo hábito de não prestar essa informação nos programas. Sei, porém, que todos encarnaram perfeitamente os personagens que representaram, transportando-nos à época, costumes e paisagens daquele tempo em que não se ouvia a buzina do automóvel nem a ameaça do bolchevista, mas em compensação, havia sinceridade, amizade, amor, pureza e honra.»

O jornal A União de 30 de Outubro de 1921 afirmava, por ocasião da despedida do filme das telas de cinema do Rio de Janeiro: «A Invicta-Film do Porto oferece-nos uma bela obra de arte, muito diversa desses dramas elétricos de tiros, raptos e correrias, tão comum nos trabalhos norte-americanos. Fidalgos da Casa Mourisca é um drama de tese, é uma afirmação de princípios, é a reconstituição dos costumes de uma época, e por isso deve ser assistido por todos aqueles que dispõem de certa cultura. Nós lhe auguramos no interior, para onde vai ser proximamente expedido, o mesmo sucesso que tem tido no Rio de Janeiro e em Niterói: enchentes completas.»   


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